Alemanha "rainha das dívidas"publicado 14:37 21 Junho 2011 
O  historiador Albrecht Ritschl evoca hoje em entrevista ao site de Der  Spiegel vários momentos na História do século XX em que a Alemanha  equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital  norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas  por grandes e pequenos países credores.Ritschl começa por lembrar  que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com  empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara  condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira  Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crashbolsista de  1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com  os custos das reparações.A Guerra Fria cancela a dívida alemãDepois  da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem  exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em  Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual  reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os  trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a  maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações  que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.No caso da Grécia,  essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas  forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a  Alemanha de KonradAdenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar  indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse  pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na  sequência da guerra civil.À pergunta do entrevistador,  pressupondo a importância da primeira ajuda à Grécia, no valor de 110  mil milhões de euros, e da segunda, em valor semelhante, contrapõe  Ritschl a perspectiva histórica: essas somas são peanuts ao lado do  incumprimento alemão dos anos 30, apenas comparável aos custos que teve  para os EUA a crise do subprime em 2008. A gravidade da crise grega,  acrescenta o especialista em História económica, não reside tanto no  volume da ajuda requerida pelo pequeno país, como no risco de contágio a  outros países europeus.Tiram-nos tudo - "até a camisa"Ritschl  lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte  substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão,  que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma  reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos  custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da  ocupação.E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um  calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar  o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos  devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a  reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de  cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.Ritschl conclui  aconselhando os bancos alemães credores da Grécia a moderarem a sua  sofreguidão cobradora, não só porque a Alemanha vive de exportações e  uma crise contagiosa a arrastaria igualmente para a ruína, mas também  porque o calote da Segunda Guerra Mundial, afirma, vive na memória  colectiva do povo grego. Uma atitude de cobrança implacável das dívidas  actuais não deixaria, segundo o historiador, de reanimar em retaliação  as velhas reivindicações congeladas, da Grécia e doutros países e, nesse  caso, "despojar-nos-ão de tudo, até da camisa".Fátima Doelinger
 
 
 
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