27.06.11 - Mundo 
Leonardo Boff  (Teólogo, filósofo e escritor)
 Tenho sustentado  que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É  terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a  qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que  representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta  interpretação.
A primeira é a  seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o  capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo  o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente  seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que  lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu  profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as  duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o  que está ocorrendo.
A natureza,  efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes,  pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que  conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos  extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas  tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de  Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a  cara num limite intransponível.
O trabalho está  sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem  trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e  melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego  estrutural.
Milhões nunca mais  vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O  trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o  desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12%  no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social,  assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em  nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas  para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem  razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão  está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se  restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países  centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a  sociedade. As vítimas, entrelaçadas por novas avenidas de comunicação,  resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas,  especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia  política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os  Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que  circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir  absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio  sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos  trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à  altura do crescimento acelerado e de maior competitividade,  involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão  descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da  acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e  mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo,  ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e  também no Brasil.
As ruas de vários  países europeus e árabes, os "indignados” que enchem as praças de  Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema  político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens  espanhóis gritam: "não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão  refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer  dizer, são os sumos sacerdotes do capital globalizado e explorador.
Ao agravar-se a  crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais  as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e  se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que  agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das  contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de  seus filhos e filhas.