sábado, 27 de agosto de 2011

Manuel Cruz - Ninguém É Quem Queria Ser




somos a fachada
de uma coisa morta
e a vida como que a bater à nossa
porta
quando formos velhos
se um dia formos velhos
quem irá querer saber quem tinha razão
de olhos na falésia
espera pelo vento
ele dá-te a direcção

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém

a idade é oca e não pode ser motivo
estás a ver o mundo feito um velho
arquivo
eu caminho e canto pela estrada fora
e o que era mentira pode ser verdade
agora
se o cifrão sustenta a química da vida
porque tens ainda medo de morrer
faltará dinheiro
faltará cultura
faltará procura dentro do teu ser

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém

diz-me se ainda esperas encontrar o
sentido
mesmo sendo avesso a vê-lo em ti
vestido
não tens de olhar sem gosto
nem de gostar sem ver
ninguém é quem queria ser

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém


José Saramago - falsa democracia

domingo, 14 de agosto de 2011

Deadly Instinct Pictures - National Geographic

Deadly Instinct Pictures - National Geographic
"Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
 dos tantos risos e momentos que partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das 
vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do 
companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum
 desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que 
trocaremos.Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...


Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar
 cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:"Quem são aquelas pessoas?"
Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
-"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons 
anos da minha vida!"

A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.

E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes 
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a
 viver a sua vida, isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes 
que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a 
causa de grandes tempestades....

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
 morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos 
os meus amigos!"








Fernando Pessoa

É com esse que eu vou

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A força do hálito é como o que tem que ser.
E o que tem que ser tem muita força.

Vai(ou vem) um sujeito,abre a boca e eis que a gente,
que no fundo é sempre a mesma,
desmonta a tenda e vai halitar-se para outro lado,
que no fundo é sempre o mesmo.

Sovacos pompeando vinagres e bafios
não são nada - bah.... - em comparação
com certos hálitos que até parece que sobem do coração.

      Ai onde transpira agora
      o bom sovaco de outrora!

Virilhas colaborando com parêntesis ou cedilhas
são autênticas (e sem hálito!) maravilhas.
Quando muito alguns pingos nos refegos,nas braguilhas,
amoniacal bafor que suporta sem dor
aquele que está ao rés de tal teor.

Mas o mau hálito é pior que a palavra,
sobretudo se não for da tua lavra.

Da malvada,da cárie ou,meudeus,do infinito,
o mau hálito é sempre na narina,
como o baudelaireano,desesperado grito
da "charogne" que apodrecer não queria...

De Alexandre O'Neill

terça-feira, 9 de agosto de 2011

amorzade

Sou feito de….
Choros sem ter razão
pessoas no coração
actos por impulsão

Lisboa,9 de Agosto de 2011, com esta pausa  dei comigo a ler lobo Antunes e

Amorzade

"Não me tinha passado pela cabeça que é exactamente o que sinto pelos meus amigos, os vivos e aqueles que morreram, ou antes, não morreram, só não puderam vir hoje, logo à noite ou amanhã telefonam e estarão no sítio em que combinámos, sem falta, e a gente a abraçar-se às palmadas nas costas. Porque razão os homens se abraçam sempre às palmadas nas costas?"
 O pintor italiano Valerio Adami dedicou-me assim um desenho. Com amorzade e a justeza da expressão surpreendeu-me: não me tinha passado pela cabeça que é exactamente o que sinto pelos meus amigos, os vivos e aqueles que morreram, ou antes, não morreram, só não puderam vir hoje, logo à noite ou amanhã telefonam e estarão no sítio em que combinámos, sem falta, e a gente a abraçar-se às palmadas nas costas. Porque razão os homens se abraçam sempre às palmadas nas costas? Sobretudo se estivemos uns tempos sem nos vermos é um festival de pancadaria cúmplice, acompanhado de palavras ternas tais como
 - Meu cabrão
e outras doçuras no género. O Valério comprou a casa de Paris de Salvador Dalí, frente à igreja do Sacré-Coeur, sempre a entrar pelas janelas, um dos apartamentos mais bonitos que conheço, onde ele mora e pinta. Ele, a mulher e um cão minúsculo, que transporta numa espécie de saco a tiracolo. Lembro-me do último jantar, em que comi sob um espantoso Miró, enorme. Como aquele quadro vivia! Cinzeiros antigos, atarrachados às paredes. O cabelo cor de aço do Valério, os cantos da boca que, ao sorrir, quase alcançavam as lentes. E o atelier meticulosamente arrumado, grandes quadros ainda incompletos e já com uma precisão formal do caraças. Amorzade, meu cabrão, que palavra. E a igreja quase sentada ao meu colo, a igreja a abraçar-me a mim. Uma outra obra, um óleo do pintor chileno Roberto Matta, que conheci muito bem, esplêndido igualmente. Roberto Matta passou uns tempos aqui, a namorar a poetisa Gabriela Mistral. Na altura em que nos encontrámos vivia com a última mulher, para quem desenhou o anel de noivado, com um pirilau e uma vagina. Apertava-se aquilo e o pirilau entrava. Foi a senhora quem me mostrou as capacidades da obra, orgulhosa. Passados uns anos meteram o Roberto num caixão. Nem sei que idade tinha: oitenta e muitos ou vinte, é a mesma coisa, e a mão mais diligente do universo no que dizia respeito a traseiros femininos. Nunca falávamos de arte, falávamos sei lá de quê. E ríamos. Meu Deus o que me ri com esses dois. O que continuo a rir-me com esses dois. E a angústia que se palpava por baixo da alegria. Isto, de criar, palavra de honra que é muito difícil, mas é a única forma de as dores secretas abrandarem. E então fingimos que não há nada e continua-se. O que custa um livro, o que deve custar um desenho, um simples traço até. Porém é um tormento que equilibra e igualmente, em certas alturas, um júbilo indizível. Felizmente que ando com um livro, numa altura em que a minha relação comigo me tem feito sofrer, por razões que não interessam aos outros. A minha mãe, era eu pequeno
- Nasceste com tudo e nunca estás satisfeito  e tem razão, senhora: a minha sede é inextinguível. Pergunto-me se alguma vez descobri, dentro de mim, um oásis de paz. Acho que sim e todavia a inquietação (sei lá definir o que é)  Esporeia-me sempre. Não se preocupem (quem não se preocuparia, de resto?) cá vou. Para acabar com Paris numa outra ocasião em que lá estive descobri, quase em ruínas, com a respectiva lápide, a casa do astrónomo e matemático Laplace. Ao publicar o seu famoso tratado acerca do movimento dos planetas Napoleão perguntou-lhe
- E Deus? ao que ele respondeu
- Sire, não tive necessidade de introduzir essa hipótese.
Porque carga de água me apareceu esta conversa na cabeça? Parece que sou uma cave cheia de coisas misturadas: os vencedores da Volta à França desde antes de eu nascer, Descartes, Espinoza, uma sorveteira avariada, Velasquez, Hawthorne, o meu pai a andar de bicicleta, a serra da Estrela ao fim do dia, o senhor Hernâni, careca, que se punha de cócoras para me cumprimentar
- Não me dás um passou bem, rapaz?
e a minha mão triturada na sua. O senhor Hernâni, imagine-se: perdi-o na infância e continua comigo. Careca, baixo, forte, sempre a cheirar a vinho. Aliás, quando me cruzava com ele, era quase inevitavelmente à porta de uma tasca, de gravata torta e um dos colarinhos para cima. Ao mesmo tempo metia-me medo e as suas patilhas encantavam-me. Uma das coisas que mais desejei ter na vida foram patilhas quando crescesse. Não as tenho. Pensando bem acho que não as tenho porque não cresci. Hei-de crescer qualquer dia, não faço tenções de envelhecer menino, e esmagar, por meu turno, a mão do senhor Hernâni, num passou bem de homem.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Felicidade e infelicidade são irmãs gémeas, que crescem juntas." "Homens de natureza vivaz mentem só por um instante: logo em seguida eles mentem para si mesmos e ficam convencidos e se sentem honestos." "Para ver uma estrela cintilante é preciso ter um caos dentro de si." "Não fiques nos baixos./ Não subas às alturas./ O mais belo mirante do mundo/ está no meio da encosta." "Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões." "Não há nada que deprima mais o ser humano (mais depressa) do que a paixão do ressentimento." "É verdade que se mente com a boca; mas a careta que se faz ao mesmo tempo diz, apesar de tudo, a verdade." "O sentido do trágico aumenta e diminui com a sensualidade." "A objecção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia." "Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti." "No convívio com sábios e artistas facilmente nos enganamos no sentido oposto: não é raro encontrarmos por detrás dum sábio notável um homem medíocre, e muitas vezes por detrás de um artista medíocre - um homem muito notável." "Um procura um parteiro para os seus pensamentos, outro alguém a quem possa ajudar: é assim que nasce uma boa conversa." "Quem se sente predestinado para a contemplação e não para a fé acha todos os crentes demasiado barulhentos e impertinentes: evita-os." "Não há fenómenos morais, mas apenas uma interpretação moral de fenómenos..." "Começamos a desconfiar das pessoas muito inteligentes quando ficam embaraçadas." "Em tempo de paz o homem belicoso ataca-se a si próprio." "Fui eu que o fiz', diz a minha memória. 'Não posso ter feito isso', - diz o meu orgulho e mantém-se inflexível. Por fim - é a memória que cede." "Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser céptico." "Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma gargalhada!" "Aquele que vive de combater um inimigo tem interesse em o deixar com vida." "As convicções são inimigos da verdade bem mais perigosos que as mentiras." "Fazer grandes coisas é difícil; mas comandar grandes coisas é ainda mais difícil." "Não há fatos, apenas interpretações." "Uma pessoa continua a trabalhar porque o trabalho é uma forma de diversão. Mas temos de ter cuidado para não deixarmos a diversão tornar-se demasiado penosa." "É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil." "O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai." "Se não se tem um bom pai, é preciso arranjar um." "Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu! " "A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda." "O homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem, uma corda por cima do abismo." "Torna-te aquilo que és" "Apenas devia ser possuidor quem tem espírito: não sendo assim, a fortuna é um perigo público." "Aquele que sabe mandar encontra sempre quem deva obedecer." "Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." "A vaidade alheia só nos é antipática quando vai de encontro a nossa." "A maneira mais pérfida de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com más razões." "Falando francamente, por vezes é necessário irritarmo-nos para que as coisas corram bem." "O que é bom? Tudo que eleve no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência." "Falar muito de si mesmo pode ser também um modo de se esconder" "Temos a arte para não morrer com a verdade." "Eu preciso de parceiros, mas colegas vivos; não mortos e cadáveres que tenha que levar com dificuldade por onde eu for" "Alguém esquece um erro depois de tê-lo confessado a outro, mas normalmente o outro não o esquece." "A palavra mais simples e a carta mais grosseira são melhores, são mais educadas do que o silêncio." "Sem música a vida seria um erro" "A potência intelectual de um homem se mede pela dose de humor que é capaz de utilizar." "O homem parece ter mais carácter quando segue seu temperamento do que quando segue seus princípios." "Na dor há tanta sabedoria como prazer; ambas são as duas grandes forças conservadoras da espécie." "Dez vezes por dia deves rir e regozijar-te; caso contrário te incomodará de noite o estômago, o pai da grande aflição." "Não há razão para procurar o sofrimento, mas se este chega e trata de meter-se em tua vida, não temas; olha-o na cara e com a testa bem levantada." "O que não me mata, fortalece-me" "Somente aquele que constrói o futuro tem direito de julgar o passado" "Quem tem algo por que viver, é capaz de suportar qualquer coisa." "O grande estilo nasce quando o belo obtém a vitória sobre o enorme." "A vantagem de ter má memória é que se goza muitas vezes das mesmas coisas" "A maturidade do homem é ter voltado a encontrar a seriedade com que jogava quando era menino." "Há sempre um pouco de loucura no amor; mas sempre há um pouco de razão na loucura." 

Nietzsche

How To Get Rid of iron In Well Water

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